O fim da inocência
O fim da inocência
================ErdoBastos
Ali estava ela...
Pendurada, num cambalear vacilante frente à borda, pronta pra cair.
Cair lhe parecia tão natural... Nada além de destino, apenas isso.
A boca no final do precipício sorria pra ela, como se a estivesse esperando há muito...
Toda uma existência passando a sua frente numa projeção acelerada de slides coloridos. Mil reflexos diferentes a tornavam brilhosa, fulgurante.
Em meio a um turbilhão de emoções e lembranças, se fortalece...
Cresce por sentir-se feliz, incha de felicidade num momento. Ganha volume.
Num instante, não se sustenta mais na borda. Cresceu e paradoxalmente por isso tornou-se leve.
Fez-se breve e com a coragem dos designados, rolou...
Caindo, lembrava-se que sempre desejara ser uma gota de orvalho.
Tinham a mesma natureza, o mesmo destino de um dia, inexoravelmente, virem a cair...
Enquanto caía alegremente, via seu destino cumprir-se.
E feliz por cumprir sua missão, rolou na direção da boca alcançando-lhe o sorriso.
Não, ela não nascera como a gota de orvalho que desejara haver sido...
Ainda assim sentiu-se única, por haver sido a primeira.
A primeira lágrima de amor a cair de um olhar inocente.
E entendeu, afinal, seu destino. Apesar de, agora, desejar ser poesia...