Se eu Fosse Amizade
Se eu fosse amizade queria, como o rio, me mover entre as margens, só duas. Nem sempre sereno. Seria assim: ora sereno, ora tormentoso; ora cristalino, ora turvo, mesclado.
Queria, como o olhar, demonstrar afetos e desafetos, só para ter a sensação de livre escolha, na hora do caminho estreitar-se ou dividir-se. Queria sempre a melhor imagem da alma, a espelhar o bom e o mau, o bem e o mal.
Queria, como a vaidade, a beleza, como sumo bem. Não poderia existir, se eu fosse a amizade, nada feio na amizade. Toda amizade seria polidamente bela, preciosa e exuberante, insinuante e de energia justa, contagiante a espalhar equidade.
Ah! Se eu fosse amizade, queria ser amores e mais amores. O mundo todo a se amar e para amar. Formaria teias interligando seres, criaturas numa só humanidade. Humanidade da pedra, da planta, do espaço, do animal, da produção, da perda, do elogio... Muitas humanidades. Tantas, que todos os seres seriam infinitamente humanos, porque ser desumano é muito triste é irreversível. Nada devia ser desumano...
In: 'Se Eu Fosse Amizade' prosa de Ibernise.
Barcelos/PT. 06JUN2015