Trocando em Miúdos
Os encontros que a vida nos proporciona são desprovidos de padrão, em cada evento separadamente. São inéditos no ato de acontecer e mudar. Mas a insanidade age em conflito com esta realidade. Por que? A inconsciência está próxima, mas não se percebe. Assim o que resta é a insanidade da fantasia, do que só existe para cada um. Onde cada um vive e é feliz. A vida dentro de sua própria mente. A mentirosa. É ela que faz o ser humano fazer sempre a mesma coisa e esperar resultado diferente. Baseado nisto, na sua irrealidade, o homem confia.
O grande problema é que ele(a) não confia ao mesmo tempo. Então as confianças existem mas nunca se encontram. Assim imaginam que as ações se repetem esperando resultados diferentes, e nisto consiste a confiança, mas cada sujeito tem o seu próprio tempo, o que faz as confianças nunca se encontrarem, o que existe na verdade é a fé na confiança. O resultado é que a mesma confiança original se alimenta da desconfiança final, aquela gerada pelo descompasso no tempo, que não permite as confianças se encontrarem. Esta é a origem de todos os conflitos, desconfiança em si, e nos outros. A falta de sincronicidade entre as confianças.
A fé é o que cada um tem para investir em suas ações sempre iguais esperando resultados diferentes, conforme as suas necessidades, de cada tempo. E o amadurecimento vem quando um brilho de inconsciência é percebido, e o ser começa a querer mudar, e pensa que vai mudar e que está mudando, mas novamente age pela fé, repete todas as ações iguais esperando diferentes respostas. É o eterno retorno do mesmo que rege a vida.
Portanto o tempo é o maior valor. O erro é esperar pela vida como se ela fosse um objeto estático, e não um processo em contínuo movimento até quando supostamente para e cede lugar a morte, que necessariamente não é a negação da vida, e sim um novo processo de viver que supostamente se extinguira. Há sempre uma rachadura em tudo, por isso a luz pode entrar, ainda que em seguida possa desaparecer como num buraco negro, mas esta seria uma outra história...
Assim a realidade, não é compacta, nem inerte, nunca é dada, nem acabada, é puro movimento potencial. E no retorno a cada vez em novo tempo, fica-se a imaginar o que se há de encontrar diferente de tudo que se lembra; reza-se para reconhecer-se um rosto que não mudou, que reconheça a si com o mesmo olhar que sempre olhou, ainda que a maior mudança já terá sido a interior. Novo tempo, novas esperanças, nova sequência de ações iguais esperando resultados diferentes, mas como os acontecimentos da vida são inéditos, mas as ações são iguais, não há a menor chance de obter-se resultados diferentes. E o script da vida se faz em ciclos, no eterno retorno do mesmo.Trocando em miúdos a palavra de ordem é renascer. No dogma cristão a época natalina lembra a todos a importância deste renascimento, mas ficando atentos para o fato de que as ações devem mudar para que se obtenha resultados diferentes, garantindo assim que a confiança não se transforme em desconfiança, em si mesmo e no outro.
Ibernise
Barcelos/PT10NOV2013