Senhor Ninguém
Senhor Ninguém
vai caminhando
- e isto é pura ironia –
Dando passos vazios
Em qualquer avenida
A Boneca
dançando
- com uma fugaz alegria –
Dando passos profundos
Em sua moradia
Seus caminhos
Se cruzam
Nas idas da vida
Ele oferece um sorriso
Ela morde a língua
Senhor Ninguém se imagina
Encontrando a doce menina
Relembra seu olhar distante
Em seus movimentos
Tamanha agonia
A Boneca revive
Os gestos daquele menino
Os olhos repletos de angústia
Refletiram sua dor
Enquanto sorria
Encontros secretos
No fim do dia
Marcaram o início
De algo
Que nenhum deles conhecia
Mas no coração - a malícia -
De uma mulher com cabelos de fogo
Crescia...
Pelo Senhor Ninguém
Uma intensa paixão nutria
Certo dia, compelida
Pelo ciúme em explosão
Seguiu seu amado
Até a distante mansão
Pela janela – a vista - amargou tola decisão
Senhor Ninguém e a Boneca
Trocavam olhares de intensa emoção
Não era algo fútil, não era simples tesão
Em seus toques transparecia
A sinceridade daquela situação.
Mas bonecas não sentem amor
Não conhecem esta sensação
São frias por dentro e por fora
Estaria cego pela sua beleza?
Como poderia ele ter perdido a razão?
Munida de inveja e
Negros sentimentos
A mulher com fogo nos olhos
Interrompeu o momento
Feriu a Boneca e instaurou sofrimento
Caída no chão
Vendo seu sangue escorrendo
Senhor Ninguém tomou suas mãos
Confuso por todo o tormento
Suas lágrimas deslizaram por seu rosto – tocaram a boneca
“Se eu posso sentir dor...
É sinal que posso amar
E se eu posso morrer
Agora sei o quão viva
uma boneca pode estar.”
Com um sorriso ela se despediu
Senhor Ninguém não podia acreditar
Estava sozinho de novo.
Sem ninguém para sobreviver aos dias juntos
Sem ninguém para amar.
Mas ele aprendeu que
No mundo, todos tem seu lugar.
Mesmo quem na solidão procura
E não parece encontrar
A pessoa que nos faz perceber que vale a pena lutar.