Alô
Alô!
Estou ligando pra saber como você está!
Porque eu preciso saber qual será o meu humor
Não me permitiria ficar bem, se você não atendesse
Normalmente estou à toa em minha solidão
E nesses momentos você preenche meus vazios
Sonho acordado, imagino sua silhueta
E mesmo que o dia passe de modo tão breve
A alegria ultrapassa a madrugada
Fisicamente estamos tão perto
Mas as circunstâncias nos tornam distantes
Apesar disso, dá pra sentir teu calor
São coisas, tantas e sublimes
Que a mais rica poesia mendigaria os verbetes
Inventaria qualquer razão para ouvir você dizer baixinho
Às vezes, tão baixo como um suspiro
Mesmo assim, ainda te posso entender
Neste quarto, sozinho, brigo com os lençóis
Aborreço os travesseiros,
não consigo escolher o melhor lado da cama,
mas num breve desatino
eu me pego dizendo “alô”
Não sei qual seria a reação
Apesar de tanto e tudo, um instante,
o risco de ouvir um não
Seria mentira se eu negasse a falta que você me faz
Mesmo que seja uma simples saudação
Se quantas chances houvesse, e tantas
Ligaria para ouvir novamente a tua voz
Num breve instante, me dizendo:
Alô.
Escrito há doze anos, parece que foi ontem.
Há coisas que o tempo não muda...