ENTRANHAS OCULTAS
ENTRANHAS OCULTAS
Às vezes cavo a terra
seca ou úmida
pra sentir o teu cheiro natural,
e me surpreendo
com a poesia que emerge
de tuas entranhas ocultas.
Imagino quantas coisas
brotam da terra e ela própria
as consome, como deusa-mãe
das coisas mortais, e parte
que integra a essência das coisas
eternas criadas pelo Deus-Pai.
A poesia me revela
num ensaio de morte, o que
a terra consome; matéria
inerte de humanos, animais,
insetos e vegetais, que nutrem
os vermes, e são também adubos
que fertilizam o próprio solo,
gerando a riqueza alimentar
que irá nutrir os seres vivos.
A terra se abre e me hipnotiza
para que adentre-na,
e vivencie a poesia em teu
íntimo profundo; e sinta
em tua escureza escondida,
a inércia das coisas mortas
envoltas por miasmas pestilentos
presos sob umbrais terrenos.
Nessa breve estadia de transe
angustiante, vejo almas
umbralinas com perispíritos
desfigurados; seres horrendos
com cabeça de cavalo,
chifres de boi e focinho de porco;
e a sensação súbita de náusea
se derrama em vômito poético.
Assim, o poema vai sendo feito,
fruto do lixo subterrâneo
acumulado na triste realidade
terrena, que a maioria das almas
não vê, não sente, e não percebe
saindo de teus corpos perecíveis,
as más energias e as más vibrações
que nutrem os maus pensamentos
e maus sentimentos de tuas
essências impuras que, ao invés
de se elevarem ao céu ditoso,
se rebaixam sob a terra desditosa.
Escritor Adilson Fontoura