ENTRANHAS OCULTAS

ENTRANHAS OCULTAS

Às vezes cavo a terra

seca ou úmida

pra sentir o teu cheiro natural,

e me surpreendo

com a poesia que emerge

de tuas entranhas ocultas.

Imagino quantas coisas

brotam da terra e ela própria

as consome, como deusa-mãe

das coisas mortais, e parte

que integra a essência das coisas

eternas criadas pelo Deus-Pai.

A poesia me revela

num ensaio de morte, o que

a terra consome; matéria

inerte de humanos, animais,

insetos e vegetais, que nutrem

os vermes, e são também adubos

que fertilizam o próprio solo,

gerando a riqueza alimentar

que irá nutrir os seres vivos.

A terra se abre e me hipnotiza

para que adentre-na,

e vivencie a poesia em teu

íntimo profundo; e sinta

em tua escureza escondida,

a inércia das coisas mortas

envoltas por miasmas pestilentos

presos sob umbrais terrenos.

Nessa breve estadia de transe

angustiante, vejo almas

umbralinas com perispíritos

desfigurados; seres horrendos

com cabeça de cavalo,

chifres de boi e focinho de porco;

e a sensação súbita de náusea

se derrama em vômito poético.

Assim, o poema vai sendo feito,

fruto do lixo subterrâneo

acumulado na triste realidade

terrena, que a maioria das almas

não vê, não sente, e não percebe

saindo de teus corpos perecíveis,

as más energias e as más vibrações

que nutrem os maus pensamentos

e maus sentimentos de tuas

essências impuras que, ao invés

de se elevarem ao céu ditoso,

se rebaixam sob a terra desditosa.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 17/01/2018
Reeditado em 26/12/2020
Código do texto: T6228678
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