Gato estelar
Em nossa casa havia um gato, nada comum aos gatos que já conhecíamos. Esse amava pular, brincar, receber cafuné, até aqui tudo bem, pois todos os gatos são assim, mas esse era especial e se chamava Pitoco, um gatinho super fofo e sapeca, metade branca com manchas amareladas quase laranja e um pêlo ouriçado e macio, com uma mancha acima dos olhos lembrando a ponta de uma estrela, e um par de asas ladeando o focinho. Era só você olhar no seu olhar e se podia ver o gatinho sapeca voando, e pra disfarçar que podia voar a qualquer hora, saía pulando feito macaco pela casa.
Para as crianças era uma festa brincar com ele, e sua brincadeira preferida era abraçar com as duas patas os braços das crianças e lutar, ele amava lutar com a garra-mão que lhe faziam, a mesma mão que dantes lhe acariciava, e também lhe fazia medo, só pra ver ele rosnar assim como quando estava se alimentando, se alguém o chamasse rosnava feito leão.
Esse gato chamado Pitoco dava sinais de ser de outro mundo, um país distante nas estrelas, país da mesma estrela pintada em sua pelagem, onde vivem outros gatos espertos, pois esse gato amava ouvir poesia. Era só alguém abrir um livro e começar recitar que ele pulava no sofá entre as pernas do leitor e o livro e ficava ali, querendo morder o livro, querendo receber carinho e ouvir a poesia de forma melodiosa e afetiva.
Um dia, sem mais nem menos, de forma rápida alguém passou e roubou a vida de Pitoco, que nada disse, nem sequer um verso de dor, nem um poema triste, apenas acenou o rabinho e voou.
Agora, quando a gente olha o céu, pode ver entre as constelações, seu rabo macio de gato, feito pêndulo, afastando as estrelas e escrevendo com saudade a palavra: Amor!
E se a gente reparar bem nas noites de lua, poderá ver o gato pular de uma estrela para outra, ou voar com suas asas macias para uma nova galáxia para brincar.
Só assim poder-se-á compreender : Pitoco era um ser estrelar!
Paula Belmino
*Perdemos nosso gatinho ontem em um acidente e foi assim com poesia que encontramos uma maneira de enfrentar a dor!
http://paulabelmino.blogspot.com.br/2018/01/gato-estelar.html