PEDIDO POÉTICO

PEDIDO POÉTICO

A poesia

me pede

a todo instante

que a veja, a sinta.

Como vejo

e sinto

a estensão de quem morre

no além túmulo

onde a alma vive.

Nem precisa

me pedir, poesia,

sussurrando no meu ouvido,

pois a minha alma

em silêncio,

já sabe o que me pede.

No entanto,

para quê, quer que a veja,

se o meu olhar

ainda dorme sonhando;

para quê, quer que a sinta,

se o meu afeto por ti

não se impõe, é espontâneo?!

Antes de te ver

e te sentir,

preciso pensar na linguagem

articulada

pela palavra, pelo verso,

que ainda não sei

se tem rima ou é livre,

mas apenas sei

que o indício de sua imagem

é para mim,

algo bem sentimental.

Pede-me

para te ver e te sentir,

se ainda não sei

se o poema pode ser feito:

ante a fuga

de minha sensibilidade

momentânea;

ante o oásis escasso da água

que irriga

a minha inspiração;

ante a flor

à espera que a abelha

lhe sugue o néctar adocicado;

ante a dúvida

de qual palavra ou verso

pode fazer parte do poema.

Não sei, poesia,

se o que me pede neste instante,

está ao meu alcance

que satisfaça a sua vontade;

ainda não abri os olhos

sonolentos de tanto sonhar;

ainda não me sinto te doando

o meu imenso amor por ti;

ainda não sei fazer-te

pois o poema fugiu de mim.

Então,

desista de me pedir

para te ver, te sentir;

para mim, basta que te console

a alma poética;

basta que me cale

no silêncio do poema

com aparência de feito;

enfim,

basta que eu durma

e continue sonhando

contigo, poesia,

me pedindo

para te ver e te sentir,

antes de ser-te o poema:

que,

como a minha alma,

não está morto sob a terra fria,

mas bem vivo no além

à espera de ser feito

em simples sonhos poéticos.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 13/01/2018
Código do texto: T6225108
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