Protetores

Não gosto da palavra hábito. Talvez seja o “h”, essa letra muda que pouco ou nada me convence. Tento uma hermenêutica tolerante, mas não creio que homem, hímen e história, para citar as situações mais visíveis, carreguem letras mudas gratuitamente. Tampouco hábito. Há segredos nessas palavras que operam no mundo há milênios.

Zelando em parte pela coerência, em parte pelo despropósito, cultivo poucos hábitos, afora alguns, deslocantes, como ler, escrever, correr e olhar nos olhos das pessoas, hábitos que, por si só, transgridem a ideia herdada com a palavra. Isso de acordar todo dia e vestir a alma com a mesma roupa está fora de questão. Mas passo protetor solar, no modo adverbial da palavra religiosa. Talvez esse seja também um segredo. Um pretexto para tocar as linhas do rosto. Cada uma, a estrada de uma história. Real ou inventada. Histórias que se deixam ler e reinventar infinitamente, a cada presença ao espelho. Os pseudônimos sequer dão conta de nomear as vidas e mortes que habitam uma face. De novo o “h” habita mudo. Segredoso. Mas aqui o segredo não dirige a história da humanidade. O segredo de cada rosto é singular. Se isso for o prefácio do meu próximo livro, a epígrafe será: Entregue-se. Não há protetor palavral. A palavra é um raio que atravessa até a pele do silêncio.