MENINA
 
    Esta tarde encontrei uma menina: meiga, sorridente,  
vestido rodado, olhos grandes e amendoados
e cabelos castanhos. 
    - São muitas as pedras, você precisa saber contorná-las!
Não queira ser adulta todos os dias: permita que sua
menina interior sonhe, porque, afinal, nem todos
os sonhos precisam tornar-se realidade! – ela falou.
    Sorri para aquele lindo sorriso e aquela criatura encantada me estendeu a mão e juntas caminhamos
sobre as ondas.
    Acordei e compreendi o significado daquelas
palavras: todo ser humano é
frágil e vulnerável,
por isso só temos duas alternativas: ou recusamos
a nossa natureza e decidimos ser plásticos,
artificiais e inquebráveis, ou aceitamos a
vulnerabilidade do coração e abrimos as portas
e as janelas e sentimos ao vivo a energia e as cores
inebriantes com que o tempo colore a vida em
silêncio,
no mais puro silêncio, aquele silêncio
que se ri de todas as metáforas que um dia
ousamos inventar...

        A minha menina interior precisa viver para
que eu viva: mais feliz, mais colorida, mais completa,

ainda que frágil e vulnerável; ainda que goste
de pensar que a vida é longa e que me sobra tempo
para mais alguns erros e acertos...


    Porque, afinal, somos mulheres e meninas e
ousamos inventar metáforas e, como você disse 
"São os pequenos brilhos que encantam,
os holofotes cegam", 
não é mesmo, Clarice?
 

©  Ana Flor do Lácio


 




 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 08/01/2018
Reeditado em 08/01/2018
Código do texto: T6219925
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.