Por onde andam meus passos?
Meus passos vão por aí, alongando a curta vida nas estradas do interior. Têm cheiro de mato meus passos. Decerto, os assassinatos cometidos. Todo dia eu mato a secura que ameça a poesia. Morte legítima. Eu confesso. E profiro todos os dias as palavras que me absolvem. Compaixão. Eu sou. E me irrigo de lua a lua do poço escondido por baixo das fendas da terra em rachaduras. Seguem-se daí meus passos caminhando pelos olhos. Desbravam o mato até encontrar cachoeira. Essa gente de sertão e morro precisa rio pra chegar ao mar. Sempre vir a mar, meus passos vão. Mergulhando o corpo, meus passos proseiam com Deus, bebem o sal e correm de volta pro mato. O lugar de origem. Meus passos sempre voltam às origens. Até quando as origens são aquelas do meio do caminho. As tardes que devolvem os sentidos dos passos. Esses passos andantes que penduram em árvores, respiram a seiva e abraçam o tronco até pra se jogarem no abismo. Sim. Meus passos se lançam. Que essa vida não tem fundo. E cada um constrói, em segredo, os passos da sua trilha.