VOZES POÉTICAS

VOZES POÉTICAS

Os meus versos me dizem que não sabem

ficar muito tempo adormecidos dentro de mim.

Dizem, risonhos, que ficam só um certo

tempo, depois acordam e querem sair para passear.

Quando passeiam, não se limitam

em ficarem arrumados sobre a folha de papel

branco ou amarelado,

num livro aberto ou fechado, ou numa página

internética qualquer.

Acho que estão certos nessas atitudes cotidianas,

porque, apesar de estarem adormecidos,

não estão inertes como os mortos,

mas estão vivos como almas que andam e voam

por muitos lugares terrenos e astrais.

Antes eles eram dorminhocos

e aprenderam a dormir comigo numa cumplicidade

espontânea. Para despertarem, pareciam

o bicho-preguiça descendo ou subindo

numa árvore com tamanha vagarosidade.

Agora, eles estão tão ágeis, tão enérgicos,

que nadam como espermatozóides,

sempre propensos a se vincularem ao óvulo

para a geração de uma nova vida.

Os meus versos, assim, quase não dormem,

tiram somente um cochilo,

um sono leve,

tampouco sonham com algo qualquer

que lhes seja interessante.

A vida amadurece o poeta,

que amadurece os versos,

que dão frutos poéticos

a todo momento propícios à colheita contínua.

Se antes dormiam em demasia, era porque

a inspiração vinha engatinhando

como a criança (cuja alma,

nela encarnada),

espera o tempo certo para andar.

Com a madureza do poeta,

as palavras ficaram desinibidas,

os versos mais despertos, rítmicos e livres

como a alma que voa,

quando o corpo está em repouso sobre a cama,

ou debaixo da árvore frondosa.

Há então, um despertar contínuo

da linguagem literária,

motivada pela alma poética ou prosaica edificada.

Um despertar que não se atém

somente ao tempo finito da alma na vida carnal.

Mas sobretudo, se estende pelo tempo

de vida infinita do espírito.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 29/12/2017
Reeditado em 09/05/2018
Código do texto: T6211503
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