MINHA MÃE A SOMBRA DOS LARANJAIS.
Nasci num Brasil distante das praias ensolaradas, mas com campos infinitos. Aos internautas que conhecem o mundo a distância pode parecer que nasci no Brasil do Agro-negócio, aquele que é rico, que é pop, que é Globo. Mas nasci no Brasil agrário, um Brasil que fica no limbo entre as oligarquias agrárias e o Movimento dos Sem Terra. O Brasil encardido demais para aparecer nos romances de Jorge Amado, e viçoso demais para ser reproduzido por Graciliano Ramos.
Um Brasil invisivel onde os dias só se diferenciam pelo clima...Mas faça chuva ou faça sol trabalhar é preciso, viver não é preciso.
E hoje, ao ver tantas comemorações dos dias das mães, me lembrei da minha mãe Maria, uma entre tantas outras Marias desse país de herois anônimos, mas que para mim sempre foi especial.
Uma entre muitos irmãos, mãe de cinco filhos... Comprou sua alforria do marido na lida no campo, nas plantações de batatas, na colheita manual de feijão, arrumando boquês para outras mães...Depois foi pra cidade onde se tornou doméstica, arrumadeira e cozinheira..Nunca deixando de trabalhar.
Hoje quando acordei e tomei um suco de laranja recordei minha lembrança mais preciosa. Minha mãe na lida da colheita das laranjas. Ela levava meus irmãos e eu para debaixo dos laranjais e enquanto colhia as frutas ia nos contando histórias, cantando, fazendo de tudo para que tivessemos uma infância feliz...
Agora percebo que ser mãe é isto, defender os filhos, cuidar para que vejam o mundo com os olhos da esperança.
Eu vim pra cidade grande e ela segue sua vida agora melhor na cidade que escolheu, mas não me esqueço jamais da minha origem e da mulher que me ensinou que podemos ir muito além das sombras dos laranjais.
Obrigado mãe, pela vida, pela esperança e pelo exemplo.