NO INÍCIO DO VERÃO
NO INÍCIO DO VERÃO
O verão que agora se inicia,
me faz ficar com saudade da suavidade primaveril.
Sei, contudo, que o verão também
é prazeroso de ve-lo, de senti-lo,
de curti-lo bem ensolarado.
Apesar do calor intenso,
a inspiração poética é a mesma das outras estações,
pois cada uma me inspira a escrever
acerca do seu modo de ser específico.
Escrever (mais para os outros do que para mim),
é tão comum como eu fazer certos atos
íntimos no cotidiano
doméstico que dispensam explicações...
O que não é comum é eu ficar sem escrever
em qualquer instante de qualquer dia, ou numa noite
qualquer, após acordar de súbito
em plena madrugada lembrando do voo
de volta ao meu corpo físico, cuja alma,
um tanto cansada das andanças astrais, terá,
logo, logo, que reiniciar as atividades carnais,
pois a carne fica inativa, mas a alma não.
O prazer de escrever é tamanho
(escrevo por necessidade espiritual e não viso lucro material)
que antes me angustiava,
imaginando que num dia qualquer do meu porvir
existencial eu deixaria de escrever
pelo fato da morte me achar.
Mas hoje, com a compreensão espírita,
eu sei que mesmo desencarnado, posso continuar
a escrever e a exercer outras atividades
que me aprazam, e até enviar alguns textos
(não com a mesma frequência de agora) para os que sentirem
saudade de ler-me pela via mediúnica,
quando então, verão no final das linhas poéticas
ou prosaicas: Médium - Fulano de Tal. Espírito - Adilson Fontoura.
Da janela do quarto, eu vejo um casal de passarinhos
fazendo um ninho dentro de uma pequena
caixa de instalação internética, unida no poste contendo
outras pequenas caixas, e cheio de fiação elétrica.
Cada vida tem a sua singularidade.
O seu modo procriativo.
Jesus (o tipo mais perfeito que Deus
ofereceu ao homem para lhe servir de modelo e guia),
não nasceu carnalmente numa manjedoura dentro
de uma estrebaria?
O homem carnal pode nascer num hospital,
dentro de uma casa ou de um veículo.
Pode nascer de cócoras numa aldeia indígena.
Pode nascer numa rua, travessa ou beco sem saída.
Pode nascer num avião, num navio, ou num matagal.
Não importa onde venha a nascer. Não importa onde
venha a gerar quem vai nascer, no útero ou no ovo,
seja um humano ou uma ave, se tiver que nascer,
vai nascer, segundo a lei procriativa divina.
A mãe amamenta o seu filho
e o põe no berço pra dormir.
O pai olha o seu filho nutrido e o beija
no rostinho pueril com um paterno carinho.
Por enquanto,
pai, mãe e filho dormem juntos no mesmo recinto,
porque o filhinho recém-nascido
precisa de muito amor, muito cuidado e muita proteção.
A ave (o macho e a fêmea) constroem o ninho
no frágil arbusto, na fronde das árvores
e até, dá pra acreditar?, dentro de uma pequena caixa
de instalação internética unida num poste
de fiação elétrica... Imaginam (a seu modo de imaginar)
que nesse diminuto espaço de plástico
fechado, com só dois pequenos buracos por onde entram,
a fêmea estará amparada e segura para por o ovo
que vai se quebrar para que o filhote possa nascer.
E o meu olhar curioso observa a intensa movimentação
do casal de passarinhos entrando e saindo
do local onde está sendo feito o futuro ninho.
Eles ficam sobre a fiação (nunca soube de um passarinho
morrer de choque elétrico), inquietos, desconfiados,
piam a todo momento, olham pra um lado, pra outro,
depois voam e quando voltam,
trazem no bico pequenos gravetos, restos de cipós,
e outras coisas que acham úteis
para a construção do ninho.
Depois do ninho pronto, a mamãe-ave dará à luz
a seu filhote, que será alimentado
o suficiente pra crescer, ter vida própria
e voar livremente...
É mais ou menos assim que ocorre com o homem carnal,
só que de uma forma mais demorada.
Na ave, o instinto lhe possibilita sobreviver
num tempo breve. Embora não tenha consciência
do bem e do mal, o amor instintivo
lhe predomina na relação afetiva.
No homem, apesar de lhe ser inerente
a consciência aprimorada, terá que aprender
a sobreviver num tempo mais demorado.
Num primeiro momento,
a consciência lhe é mais instintiva do que reflexiva.
Experimenta o bem e o mal.
Pela índole ignara, faz mais o mal do que o bem.
Erra, comete faltas, nutre vícios e defeitos.
Estagna por algum tempo, e após se corrige
pelo bom senso do livre-arbítrio,
lhe prevalecendo as virtudes nas ações.
Aprimora assim, o seu existir, pelos ciclos evolutivos.
Quanto mais ama e serve.
Quanto mais é humilde e caridoso.
Quanto mais é fraterno e pacífico.
Mais se edifica, se ilumina e se eleva
diante de si e Deus.
O homem alcança a simplicidade para viver
quando a moral lhe depura a essência.
Quanto a voar, só o homem espiritual voa,
livremente,
quando se livra da prisão carnal.
Escritor Adilson Fontoura