HÁ POESIA EM TODAS AS COISAS
HÁ POESIA EM TODAS AS COISAS
Em tudo há poesia.
Em todas as coisas há poesia.
Mas é preciso ser sensível para senti-la e ve-la
em cada instante poético,
revelado no interior e exterior das paisagens,
que podem conter desde sonhos
esquecidos na rota de voos espirituais,
ao calor morno da réstia por entre a porta,
que se desvaneceu quando o ocaso
do sol apressou o fim da tarde anoitecida.
A poesia me segue como um bom anjo
que, embora tenha missões celestes especiais,
jamais deixa-me sofrer de carência poética,
e sempre me provém do influxo inspirador.
Os prazeres oníricos povoam a minha poesia.
É comum eu andar no meio da multidão,
e os versos fluírem diante dos meus olhos
com o mesmo ímpeto
natural das águas caindo das cascatas.
E quando eu olho abstraído
para as pessoas (admirado da miragem
poética), vejo a poesia brotando
de suas roupas molhadas, de seus olhos
em prantos, de seus sorrisos aquosos,
de seus passos encharcados de versos chuvosos.
Para quem é sensível,
a poesia brota mesmo como uma miragem
desértica, mas embelezada
pela vegetação escassa do oásis.
A luz interior do poeta se mescla
com a luz solar na plena aridez do Saara.
Ciente da secura predominante,
no entanto, o poeta vê emergir
da água oásica, uns restos de versos
adormecidos até então,
no casulo artístico da alma;
e é como se a poesia despertasse
de sonhos prazerosos olvidados,
após o despertar do corpo
ainda sonolento, cuja alma, apenas
agora acaba de voltar das andanças astrais.
Os prazeres oníricos povoam a minha poesia.
Assim, com a alma provida de sensibilidade,
deixo que os versos brotem
pela visão espiritual onírica,
cujas imagens se transformam em pinturas,
esculturas e melodias quintessenciais,
que se movem pelas veredas da linguagem
poética instantânea,
enquanto o tempo sopesa a leveza da poesia,
retendo-a em sua passagem lenta
(só por pouco tempo),
que flutua comovida com a beleza simples
das coisas bem amadas pelas almas angelicais.
Escritor Adilson Fontoura