VENDEDOR DE SONHOS EM PROSA

Aquele vendedor de sonhos me arguiu com palavras torrentes, urgentes em um tom febril. Me mostrou que era possível ir além da cortina realística do cotidiano, e que era desumano deixar os sonhos, mesmo os mais estranhos, guardados e esquecidos em um armário medonho. Em pandemônios ficaram meus pensamentos quando o vendedor, sem pudor, me mostrou um azul do mar que até então era sem par.

Deixa eu respirar, lhe pedi.

Mas, constante e com paciência, parecia que me conhecia desde a infância, me mostrou em palavras, imagens e miragens onde eu queria ir. Sem aferir, era sim o lugar dos meus sonhos, um sonho que sempre tive e nunca estive, em qualquer ocasião, próximo de realizar.

Ele me mostrou um lugar onde a luz do luar se misturava, embaçava, com o brilho do sol. Lá tinha cachecol tecido com ramas campestres para as noites sempre frias. Lá tinha gurias a brincar na areia branca, que encanta nos dias sempre quentes. E também tinham entes, parentes, condolentes, pertinentes, cadentes, viajantes. Lá não tinha pressa e nem dor, compressa só de frutas silvestres para aliviar o calor. Era um lugar pintado com lápis de cor sem desdém, muito além da cortina contra fina da realidade. Na verdade, era um lugar só para imaginar.

E mesmo assim, sem um pingo de incredulidade enfim, aquele vendedor de sonhos, jeito risonho, me fez sonhar e acreditar que mesmo um lugar imaginário, sem destinatário, pode ser alcançado, sentido, visto, percorrido sem que perca todo o juízo, só o permitido.

All Xavier
Enviado por All Xavier em 05/12/2017
Reeditado em 26/12/2017
Código do texto: T6190711
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