A SINFONIA DA CHUVA
É madrugada ainda. Acordo com o barulho inconfundível dela, a chuva!
No intermezzo do dormir e do despertar, sinto se entranhando em mim, como sinfonia, o barulho do seu cair gotejante na folhagem e no chão do quintal.
Procuro novamente dormir. Em vão. Levanto-me, vou à janela e pela vidraça, acompanho os pingos em sua dança frenética. Ao lado há aquele galpão com telhado de alumínio e o barulho se torna ensurdecedor.
Ninguém àquela hora na rua! Dá para ver as poças no chão com luzes refletidas. A cidade dorme. Menos eu!
Nem sei se fico triste ou alegre de estar aqui insone, assistindo a vida passar, em forma de chuva.
Nenhum ruído interrompendo aquele gotejar, a não ser um trovão tímido, ao longe. Tempestade de verão!
Quando não vem o sol, se quer que a chuva vá embora, mas quando ela demora a nos visitar, vendo o verde se tornando seco e esturricado, clama-se por ela! E ela sempre vem! Demora mas vem!
Agora, aqui na janela, sinto a gratidão brotar no peito por esses pingos benfazejos que encharcarão a terra e a tornarão fértil outra vez. E dentro em pouco, tudo vestirá a cor da esperança! Divagações, nada mais!
Lembro-me que quando criança, tinha medo da chuva, dos trovões e dos relâmpagos. Naquela época, qualquer chuvinha que dava, era suficiente para acabar a energia e, ficávamos no escuro, aproveitando para brincar de fantasmas à luz de velas! Tempo bom!
Hoje, ouvindo ela cair, penso nos moradores ribeirinhos (na minha cidade as enchentes são comuns e devastadoras) que a qualquer momento e sem aviso, têm que deixar suas casas e tudo para trás, procurando abrigos seguros.
Parece que a chuva deu uma trégua, o dia breve raiará e tudo voltará ao normal. Melhor voltar para a cama e aproveitar o tempinho que me resta para dormir mais um pouco, deixando essa sinfonia embalar docemente todos os meus sentidos!