Pessoas e lares: abrigos
Anoiteceu com chuva e sabor de uva verde.
Ruas namoram enxurradas e janelas embaçadas.
As pessoas se vestem de casa e sofá; e jogam conversa fora.
Automóveis passam tomando banho em viagens na cidade.
Canções se tocam em goteiras e escorrem para os bueiros.
Lá se vão saudades e esperanças no mesmo barco de papel sonhado.
A noite é magia despida no escuro.
Há quem dance valsas na sala das emoções.
Claves de sol penduradas nos olhos.
O peito se aquece de carinho no calor do amor deitado na cama do quarto ao lado. A vida é mesmo assim: tantos lares abrigam pessoas;
e tantas pessoas, abrigam sentimentos.
Em momentos diversos, prazeres e sensações, atos e ficções.
São tantos trilhos e estações, onde param as carências de cada um,
ou mesmo a satisfação de tais carências.
Há tempo para tudo, mas cada tempo é devido como se tem que ser para que as coisas aconteçam dentro dele.
Portanto, o inédito é surpreendente, revelador, assustador às vezes. Mas essa é a condição das causas e consequências de todas as relações humanas, com a felicidade ou com a solidão.
As paredes confidenciam prazeres que não sentem, mas veem.
O som da terra se encharcando é ouvido,
no sono que desenha pálpebras se apertando devagarinho.
A noite testemunha a arte da chuva,
quando as nuvens peneiram água dos céus.