Não machuque o peixe
Se essa vara de pescar veio lânguida e fisgou o peixe desavisado, devolva-o para o mar. O mar é sua vocação, o mar é honesto em sua selvageria. Não promete nada. Apenas é. Nele, o peixe se sente livre. E pode ser honesto também. Não tem muito controle de sua vida, não sabe o que virá no futuro. Apenas é.
A vara de pescar com seu anzol, desestrutura tudo. Interfere no mar, machuca o peixe. Interrompe seu trajeto por entre as ondas, corta a superfície do mar com sua linha, fere o peixe, irreversivelmente. Devolva-o para o mar.
O sal e o tempo vão lhe curar as feridas. Leve sua vara de pescar para bem longe do peixe e do mar. Sua inconsequência, jogando essa vara displicentemente, pode matar o peixe ou fazê-lo acreditar no medo, como forma de viver. Se essa vara de pescar veio lânguida e fisgou o peixe desavisado, devolva-o para o mar.
E vá, para bem longe, sem olhar para trás.