tião e o mar
Tião era um sertanejo fascinado por milhares de coisas. Desde o essencial ao mais insignificante elemento; da matéria ao abstrato. Cada assunto, despertava nele um interesse diferente.
Dentre suas paixões, o mar era, de longe, a maior delas.
Beirando os 50, nunca tinha visto o mar. nunca tinha tido um amor.
Morava sozinho, no interior da Bahia e, embora dependesse da chuva para o próprio sustento, preferia os dias secos e quentes, em que o céu ficava limpinho, sem uma nuvem sequer pra atrapalhar a vista do que, em sua cabeça, chegava mais perto de um oceano. distante. azul. infinito. Ele também tinha fascínio pelas coisas infinitas (ou por tudo o que, pra ele, parecia infindo). números, olhares e sua vontade de pular de cabeça em águas profundas.
Não fosse pela seca (e pelo medo da chuva), Tião daria um excelente marinheiro. Ainda que suas lágrimas tenham sido sua única referência de água salgada. Sebastião dos 7 mares - ou das sete léguas - Não lhe faltavam histórias de lutas contra cangaceiros, seus piratas; nem de esposas prometidas pela redondeza, seus portos de atraque. Tião se entranhava pelo sertão como um legítimo desbravador e sempre sabia onde encontrar as especiarias da terra recém-conquistada. Seu deslumbramento foi explicado quando, em uma tarde, o céu azul ficou cinza.
Fechou o tempo
Abriu o peito
No sertão é assim
Tempo bom é tempo fechado
De plantar pra colher depois
De jogar a rede, pra pescar mais tarde
Lá estava ele...
Na beira do cais, sua estrada de barro
bem no fim do vilarejo
Era mais bonito que o mandacaru florido
Era mais sereno que o céu sem nuvem
Era mais intenso que o sol na terra
Era mais azul que todas as coisas azuis
Tião descobriu por que passara a vida inteira procurando oceanos
quando, enfim, encontrou o (a)mar nos olhos de maria
e nem teve medo de mergulhar.