Poetas e crianças

Das coisas mais interessantes que meus filhos me disseram, e não são poucas, e continuam sendo, poetas por natureza e olhação, nunca me esquecerei:

Da primeira palavra de cada um, proferidas à sombra da minha voz, arte e água, em ordem decrescente, como diriam as pessoas que acreditam que rio segue alguma ordem;

Do requinte de minha filha, para quem não existia ontem, nem amanhã, dizendo com o rigor da filosofia de Bergson: antes de hoje choveu, mamãe. Depois de hoje, vai fazer estrelas;

Do dia em que meu filho vestiu as palavras com a seriedade de quem sabe a importância do que tem a dizer: mamãe, eu preciso de um brinquedo novo;

E não posso esquecer das palavras (des) penteadas, dos concursos de fantasias, do idioma gatês, do carro pensante da fabricante italiana e do jogo de porquês;

Não sei se são poetas porque brincam ou se brincam porque são poetas. Desconfio que uma brincadeira imita a outra. Na dúvida, não tiro o olho deles...