Delírio de Estocolmo

Minha querida, como me encantas.

Ver teu lindo rosto todos os dias,

Sorrindo orgulhosa e prepotente.

Como és linda, como és linda…

E quão repugnante são certas coisas que dizes.

Quão maldita és quando faz tudo o que odeio.

Mas és encantadora, como és!

Quero beijá-la para sempre, enquanto nos enforcamos até a morte.

E continuar te beijando no inferno por toda a eternidade.

És um anjo, meu amor.

Idealizada, és um anjo defeituoso, mas fazes-me sorrir,

Como fazes!

Eu não sorrio, mas sonho contigo,

E nós sorrimos muito enquanto pecamos, podres por dentro.

Estamos condenados um ao outro.

Abracemos a decadência, mas fortalecemo-nos juntos.

Meus desejos perversos, ah!

Parecem-me tão puros quando os realizo em segredo,

quando há asas em meu inconsciente.

Apenas nos beijamos, e nada mais.

E sorrimos jubilosos, e vibramos como as cordas de um alaúde!

E nos amamos verdadeiramente!

Não é sempre que quero te matar, meu amor.

Só quando me desprezas e fazes de mim aquele desgraçado, aquele moribundo rastejante a implorar, invisível.

Só quando dai-me falsas esperanças.

Só quando fazes-me sofrer como um inseto mutilado.

Só quando fazes questão de lembrar-me que és tão linda,

Que és tão formosa e tão maravilhosa,

E que perto de ti sou nada mais que um quasímodo desesperado.

Só nestes momentos, meu amor.

Pois exceto isso, estas coisinhas tão pequenas...

Eu te amo, eu te amo!

Não vês? Claro que vês! Até me provocas.

Sim! Me provocas! Eu sei, vejo bem!

Que queres então? Cheirando tão bem?

Vestindo-se tão bem? Aproximando-se e fazendo-me estremecer?

Pare de uma vez se nada queres! Finda o profundo tormento que provocas em minha alma desgraçada!

Chega, por favor.

Mata-me, mata-me com requintes altíssimos de crueldade absoluta,

Faz-me sangrar tudo o que tenho de uma vez, ao invés de vazar-me aos poucos, com pequenos furos que vagarosamente afundam-me na tempestade dos teus olhos e no oceano vermelho dos teus lábios.

Faz isso, ou ama-me com sinceridade.

Faz isso, ou dá significado à minha existência

Faz isso, ou priva-me de morrer à cada dia

Dá-me o túmulo ou dá-me a terra.

Esqueça tudo o que eu disse…

Siga a torturar-me mais um dia.

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 29/11/2017
Reeditado em 09/05/2018
Código do texto: T6185009
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