OS OLHOS
OS OLHOS
Houve um tempo em que eu gostava de ficar olhando para a beleza. Olhando como que entorpecido. Absorvendo todas as sensações que elas me traziam. Meus olhos, como que, pousavam na imagem, para que minha mente pudesse captar toda a latitude daquela beleza. Porque a beleza não era o que meus olhos viam, mas o que minha mente podia perceber!
Hoje, há tantas imagens, neste mundo visual, ruas, sinais luminosos piscando, carros, mídia social, cinema, imagens em movimento, música, vídeos sobre tudo, que o que não tenho mais é tempo para olha-las com aquela calma com que via a beleza.
Assim a ficção me interessa bem mais do que a realidade sem janelas. Talvez porque nas imagens do meu olhar não existe mais o que procuro. Atualmente, olho mais para o invisível, onde mora a imaginação, pois o que imagino existe! Quando eu olho, eu não vejo. Eu sinto!
Pois as imagens que existem no invisível, na imaginação, me trazem uma percepção emocional e ela é mais útil e mais clara do que a percepção visual.
Nesta realidade de hoje eu me sinto um cego. Cego de sentidos, de razão, de intimidades com os sentimentos, cego de sensibilidades com a percepção dos outros, com o sofrimento alheio, com a dor alheia que moldam a alma humana, cego para suas necessidades, cego para a beleza do que realmente são. Cego para a furtividade das realidades subliminares. Cego para os detalhes. Eu só tenho olhos para meu entorno, meus desejos e coisas que me protegem e não me perturbam. Assim sou cego para a sabedoria da vida, porque estou entretido demais em vive-la!
Na ficção, no mundo imaginário, eu só quero me equiparar com os outros, nunca ser melhor que eles e aí é exatamente onde começa, creio, as linhas mestras da minha humanidade. Onde deixo de lado as alegorias infantis e materiais da minha mente, para observar lentamente, as fronteiras reais do sentir dos meus próprios sentimentos, que me definem quem sou.
Meus olhos da face, veem hoje apenas sombras, sombras das quais acredito serem realidades e isto não mais me satisfaz. O sol está na mente.