Uma dor emprestada
Em um singelo café em Paris,
Sim! Acho que seria um pouco mais triste,
mais solitário e mais inspirador portanto.
Numa tarde nublada, em alguma rua torta,
onde outrora algum poeta solitário,
que acabara de perder um grande amor
chorou a sua dor.
Não sei, não sei.
Quem sabe então naquele café em Lisboa
eu estaria mais triste ainda, nostálgico.,
decepcionado talvez.
Aquele café chamado, A Brasileira,
em que Cecilia Meireles esperou
em vão por Fenando Pessoa,
que justificou ter faltado, dizendo que seu o horoscopo
do dia não recomendava o encontro.
Triste não?
Peço um café , um pastelzinho de Santa Clara
e fico a imaginar sobre o que eles teriam conversado,
Quais poemas teriam mostrado um ao outro,.
Restou o silêncio elegante de Cecilia,
para si mesmo guardado.
Ou, talvez , talvez se estivesse eu às margens do rio Ouse,
No mesmo jardim onde Virginia Wolf sentou
e ficou a Contemplar o por do sol,
em um dia de grande tristeza e depressivas lembranças.
Aí sim ! Escreveria finalmente aqueles
poemas que trago há muito tempo engasgados.
Não, não sou de procrastinar,
apenas preciso de condições que me inspirem.
Aqui, nesta cidade, nestas ruas tranquilas calçadas de pedras negras,
o barulho do vento, o canto repetitivo do sabiá,
este sol obliquo deslizando seus raios dourados
pelos gramados dos jardins.
Esta calma, estas gentis pessoas que encontro pelas ruas e que me cumprimentam sorrindo
e me chamam pelo meu nome.
Ah! Esta paz gratuita!
Ninguém feliz pode escrever
um bom poema,
Preciso de uma dor.
Hei! Gente que passa !
Alguém poderia me emprestar uma dor?
Algum sofrimento, uma desilusão amorosa,
mesmo uma simples ingratidão de amigo.
Sem dor, sem sofrimento não.
Mesmo inventada,
preciso de alguma decepção.
Juro que tentei,
Sabem o que disseram sobre
os meus versos?
“ Ginasianos demais, não vende.
Não há tristeza no que ele diz,
que coisa mais sem sentido
um poeta feliz.