Tempo, dia e noite
Varandas se mostram com cadeiras de balanço,
e o tempo se suspende sobre muradas.
Solidão nas casas abandonadas.
Enfileiram-se ruas desertas a noite,
para soprarem canções de ninar aos recônditos cantos da cidade.
Vão-se boêmios; entregarem-se as portas dos lares,
sorrindo amarelado, um pedaço de sol nascente.
Jornais rasgados voam levemente de um canto a outro,
com o deslocamento de ar que provoca algum automóvel na madrugada.
O dia luta na placenta de escuridão para libertar-se no horizonte.
Vem despontando suavemente todo acordar,
se mostrando com bocejos ainda.
Vida que segue; muros que se erguem;
as pessoas se apressam para a confusão das próximas horas.
A construção obriga o labor; as dependências obrigam a competição.
É preciso junção para funcionamento da sociedade diária.
Ruas pisoteadas, curradas com velocidade de rodas,
recebem o carinho de brisas matinais.
As empresas se lotam de mão de obra
e se estendem em busca de mais riqueza.
A cidade sorri rosto de concreto e ferro;
e se arma para aconchegar cansaço no fim da tarde.
As pessoas se detêm na correria desse cansaço,
enquanto boêmios se preparam para dormir.
Arrumam a cama, sonhando lençóis desarrumados de amores;
daqueles, da solidão das casas abandonadas;
onde o tempo se suspende sobre muradas;
e varandas se mostram com cadeiras de balanço.