O filatelista

Eu coleciono selos

de onde vem

aquilo que me convem

guardo as cartas separadas

selos nunca vem de muito perto

quem mora ao lado...

nunca manda carta

e somos mais racionais escrevendo

ortografia é “corrigir” a palavra

e o correio a carta sela

e eu me aproprio do selo

minha caixa postal abriga o mundo

coisas que aconteceram alhures

me contam quem nasceu

me contam quem morreu

das bodas de primos meus

correio eletrônico não tem selo

é carta sem chancela

não me comove

nem a alegria, nem a mazela

selos mostram as flores das manhãs

de Tóquio e de Amsterdã

revela o iluminismo de Paris

que encanta o turista feliz

sambam as folhas dos coqueiros

da Bahia e do Rio de Janeiro

tudo marcado na estampilha

até os náufragos

em pequenas ilhas

mensagens, notícias

e mentiras de pernas curtas

que venham em cartas seladas

faço a triagem

do que quero me lembrar

e guardo para sempre...

os selos

que me mostram a origem

daquilo que devo me lembrar

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 13/11/2017
Reeditado em 13/11/2017
Código do texto: T6170429
Classificação de conteúdo: seguro