O filatelista
Eu coleciono selos
de onde vem
aquilo que me convem
guardo as cartas separadas
selos nunca vem de muito perto
quem mora ao lado...
nunca manda carta
e somos mais racionais escrevendo
ortografia é “corrigir” a palavra
e o correio a carta sela
e eu me aproprio do selo
minha caixa postal abriga o mundo
coisas que aconteceram alhures
me contam quem nasceu
me contam quem morreu
das bodas de primos meus
correio eletrônico não tem selo
é carta sem chancela
não me comove
nem a alegria, nem a mazela
selos mostram as flores das manhãs
de Tóquio e de Amsterdã
revela o iluminismo de Paris
que encanta o turista feliz
sambam as folhas dos coqueiros
da Bahia e do Rio de Janeiro
tudo marcado na estampilha
até os náufragos
em pequenas ilhas
mensagens, notícias
e mentiras de pernas curtas
que venham em cartas seladas
faço a triagem
do que quero me lembrar
e guardo para sempre...
os selos
que me mostram a origem
daquilo que devo me lembrar