O fim de qualquer coisa

Lembro de meus pecados sendo lavados no rio Jordão, quando, há milhares de anos, nos encontramos pela primeira vez. Hoje, de novo nas mesmas condições, novamente nos encaramos. Nossos corpos vibram como se nos apaixonássemos pela primeira vez, através de tudo e do tempo. Quando canto, sinto toda a força do universo vertendo dos pulmões e lembro da minha infância, de minha mãe dizendo “Não se cura a existência”. Nos vendo aqui hoje, não sinto remediado, mas tenho renovado o propósito da busca incessante disso a que não ser dar nome, do caminho, de nós. Reencontros, reencontros, reencontros... martela no lobo frontal, no choro, no sangue do milagre de um dia ser filho, ser pai e eternizar-se em amor e verdade. Grito em exaustão e paz: “Como quis saber! Como quis saber”. E sabendo, evanesce a intranquilidade, que é como deitar-se cansado, entregando-se a dor fina irradiando pelas costas, o fim de qualquer coisa.

Fernando Béca
Enviado por Fernando Béca em 11/11/2017
Código do texto: T6168449
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.