Quando a cidade dorme
Quando a cidade dorme, já na madrugada,
ponteiam histórias vivendo no solo das calçadas.
Retalhos de gente, amores nunca sentidos,
brisas de lamentos e sussurros escondidos.
Espalham-se estrelas nos olhares,
reluzindo vastidão no escuro.
Tantos muros entre os seres.
Cada qual se encosta como pode.
Uns pintam desenhos de saudades.
Outros tentam ver por cima da humanidade.
Lençóis rasgados, fome latente,
sede de gente, crimes acontecendo.
A noite vira palco e mostra alvos.
Há solidão na quietude dos rastros deixados durante o dia.
Só ousa caminhar à noite, as sombras e o medo.
Casas enfileiram-se nas distâncias percorridas pelas ruas.
Abrigam seres e emoções,
coisas e paixões, paredes e divisões.
Na rua assopra uma brisa;
as placas contam a ordem.
As luzes tímidas desnudadas
mostram cenas de barbárie e de aventuras.
E a cidade dorme já na madrugada que conta as horas,
com tanto amor e com tanto ódio.