Me aprisione

Eu sei. A gaiola está aberta. Sei que nem o céu é o limite e que essas grades não podem mais me aprisionar. Sim, eu sei! Sou um pássaro livre para voar agora. Mas, por quê? Por que eu teria que ir? E por que tu me prendeste se o teu intuito era, mais cedo ou mais tarde, de me deixar partir?

Maldade a sua! Livre eu vivia, do alto observava o mundo, somente o horizonte era meu foco e voava acima das expectativas. Então você apareceu, me avistou e quis, sem nenhuma explicação, me prender em tuas grades. Atirou bem em meu peito! Caí. Não foi para matar, mas me deixou inconsciente. Desmaiei e quando acordei, tempos depois, estava eu em teus braços.

Egoísta! O meu canto e meus encantos eram só teus. Todos os dias você vinha até mim expressando profunda admiração enquanto me alimentava com as migalhas que tu chamavas de semente. Assim eu fui, pouco a pouco, me habituando ao cárcere. E então vem você, com essa desculpa de dar ouvidos a consciência, me ofertar a liberdade?

Que farsa! Para onde irei? Tu sabes que não sobreviverei por muito tempo. Não acharei habitat em nenhum outro lugar. Você diz: “Tente! Voe! ”. Eu respondo: “Como? ”. Bem que tentei, é verdade, quis ir muito longe, mas não consegui. Desaprendi a bater as asas e tu sabes muito bem o porquê, por muito tempo me acostumei a estar contigo. Afinal, não era isto mesmo o que queria?

Ora, se é assim, então pare. Vamos! Pare de bobagens! Chama-me logo de volta e feche bem esta gaiola, pois, quero ficar. Anda, venha! Traga aqui meu alimento. Sacia-me de uma vez por todas porque destas malditas migalhas estou dependente. Sim, venha! Seja egoísta, eu aceito, contanto que me ainda queira! Se perdi a razão? Sim, a obsessão por este amor agora é minha! Sou eu que te quero sem explicação!

Venha! Venha amor! Venha logo! Não aceito este abandono. Me agarre, me amarre... me aprisione a ti de novo. Sei que isso é o que queremos! Então venha! Venha sem remorsos. Não se questione. Não nos censure. Para quê refletir tanto? Basta um assobio teu e eu voarei em retorno ao teu encontro.

Jaildes Ferreira
Enviado por Jaildes Ferreira em 04/11/2017
Reeditado em 06/11/2017
Código do texto: T6162161
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