Inspiração em “Navio Negreiro”, de William Turner
Tudo que veio antes de mim ajudou a pintar esta aquarela nebulosa, quente, sofrida, mar revolto, vestes rotas, minha tez negra e úmida de cansaço e febre, meus cabelos ensopados em pinceladas displicentes, quisera fossem pinceladas de Turner, o inglês
Tudo contribuiu para o cenário pictórico, os insetos e ratazanas cinza que nos rodeavam, os gritos aflitos das mãe e meninos amaldiçoados a receber essa sina desumana de ser lançado ao mar enquanto a Lua cobrava do Sol que lhe cedesse a vez
Melhor, talvez, seja morrer numa aquarela de Turner repleta de lirismo, imensurável prenúncio de Impressionismo, que a todos marcou eternamente, tons alaranjados, mesmo que desfocados, do que estar fadado a ter o corpo escravizado
Mas é curioso como, em vida, o artista é pouco ou nada valorizado. Relatam nas sete artes tudo o que ocorre, do nascimento à morte. Sem força e e incentivo de porte o prodígio dos artistas de qualidade não há como se revelar. Não queremos sentir que nascemos no Século errado.
Muito menos queremos receber nosso devido valor quando cada um de nós nos formos, é em vida que se deve colher amor.