Lama, lama; ferro,ferro

Aí você olha para trás e só vê lama... Muita lama!

E corre, corre, corre... Corre o mais rápido que pode.

Seus passos parecem lentos, facilmente suplantáveis!

Você sente que a qualquer momento será alcançado,

então corre ainda mais rápido. Corre sem olhar para o passado.

Porque só tem aquele instante de segundo para se salvar.

E todo o resto, naquele exato momento, não importa.

De verdade, não importa!

Não importa quem errou e de quem é a culpa,

se você não sobreviver para contar a história.

Enquanto corre, vê o vulto das árvores tombando a seu lado

e os pássaros em revoada esquivando-se de toda aquela desgraça.

Vê, vê não! Escuta, sente, se aterroriza... Sofre.

Sem poder reclamar ao perceber os passos dos seus amigos de infância

(atrasados na fuga repentina), sendo engolidos um a um pela lama

e subitamente silenciados, sem chance ou possibilidade de defesa.

Vivencia o angustiante desespero momentâneo

que invade e toma conta de todo o seu corpo instantaneamente,

fazendo acender ao mesmo tempo sua gana pela vida.

Vê a vida inteira passando bem diante de seu nariz e imagina...

Se será essa, a sua última chance; se será essa, a sua última vida.

Da lama ao caos, em segundos de desespero, você se salva

e ainda torna-se expectador primeiro de todo aquele pesadelo.

Antes, impensável! Agora, exemplo de como o homem tem sido cruel

e desumano consigo mesmo, com seu semelhante e com a natureza.

É o bicho homem (irracional) sedento por mais capital,

cego para a vida humana, predando cruelmente tudo que tenha vida (ou não).

Presas encarceradas às margens de uma represa (de rejeitos, de maldade),

Aguardando o bote final, o momento derradeiro de serem vitimadas.

E se a montanha tremer novamente é melhor estar preparado!

Para correr pra ruas com cartazes e organização, mobilizando, mobilizado

travestido de predador, não de presa, de leão.

E é melhor levar junto consigo uma manada,

um bando de gente informada, que briga com a faca nos dentes,

contra toda essa gente que mata e destrói, consome e corrói por dinheiro.

Molotov's e resistência, talvez sejam necessários em algum momento.

Quando tudo isso passar e você estiver a salvo no alto do morro,

antes mesmo de a poeira baixar e as máquinas voltarem a operar

- em seu modo mais embrutecido,

verá que o monstro ainda tem muita fome e não pretende se calar.

Verá que os mistérios de Minas Gerais se misturam com o dinheiro sujo

do minério extraído das montanhas,

transformadas num piscar de olhos em pó, todos os dias, há anos.

Verá que antes mesmo de a vila se refazer o monstro migrará em silêncio

se mudará para outro sítio, em busca de mais minério

de mais dinheiro de mais vidas.

Sem se importar com a natureza, com as pessoas, com suas memórias.

JWPapa
Enviado por JWPapa em 23/10/2017
Reeditado em 31/03/2018
Código do texto: T6151227
Classificação de conteúdo: seguro