cabeça de vento

“cabeça de vento, menina

saiu apressada e esqueceu o cheiro no meu moletom preferido

saiu pela porta sem se despedir de tanta pressa

tropeçou em meus gritos um tanto eufóricos

parte pelo medo de não deixar claro o que sinto

parte por arrependimento de me expor daquele jeito

e sei lá o que é isso

sei que é bom, em parte

mas te ver partindo, correndo

depressa

me fez pensar no tempo

que no início parecia estar cansado

ralentado

saturado

parecia um domingo pós-balada

ou uma velhinha costureira

vinha de fininho e se demorava em meus braços até a luz do sol incomodar a vista

cuidado com o tempo, menina

meu relógio tá correndo e você não desperta

meu cigarro acabando e você não me ama

meu peito também tem pressa

e minha boca tem sede da tua

meu corpo pulsa

tua pele

queimando nas costas

minha carne

estirada na cama

convulsa

por vontade de compartilhar o pulso com outra matéria

de alinhar palpitações

ser corpo latejante

dois corpos num mesmo instante

na mesma cama

no mesmo pulso

cabeça de vento, menina

só não esquece

que tempo sem pulso não vive

que peito sem pulso não ama”