CONFIDÊNCIAS HERMANAS: Por que eu e D. jamais nos bateremos
Ele jamais se calará quando deve. Ele jamais falará quando deve. Ele jamais estará sério quando não é para rir, nem se irá descontrair quando o caso exige. Sendo assim, esse potencial pequeno-criminoso não poderia cair nas minhas graças. Jamais eu poderia engolir ter de sustentá-lo; e ainda mais não poderia perdoar o fato de ainda assim não sustentá-lo tendo-o a minha frente após anos ou décadas me torturando pensando que meu destino recairia no fazê-lo, promovê-lo, porque ele é completamente inútil para poder parar de fazer suas barras e flexões e limpar as próprias calças, rasgar as próprias fraldas, e finalmente encorpar no bom sentido! O parasita muito-mais-do-que-visível, mas que a família trata com insolência no seu solene pacto de silêncio, que sempre está em casa quando não deveria, mas some nos momentos imprescindíveis, arre! Por que ele se tortura em pensamentos desejosos infantis?!... Eu pensei que ele não queria dinheiro por não precisar, mas vive alimentando seu ego com desejos de compras irrealizáveis para um perpétuo-desempregado... O irremediável. Ainda que recebesse mais um – o enésimo – emprego na mão! Ainda que ganhasse outros troféus por curto e breve bom desempenho...
O que mais me surpreende, não obstante, é que em trinta e quatro anos malvividos ele não tenha aprendido a compreender minimamente o mutismo sentimental de seu irmão. É, tem razão, seu comportamento e sua rotina asquerosas também não entram na minha cabeçorra... Ele que herdou a cabecinha...
Fechado num quarto vazio, só com uma bicicleta... Se matando na excitação do calor, ouvindo e roncando os gols de futebol da rodada, depois mudando para uma cena de crime, um caixote de surfe, um documentário animal... E aí vem o assunto do peixe e a compatibilidade com meu pai... Natureza-morta... Ou dissimulação para sobreviver? O cinismo com que todos ali levam esse teatrinho adiante e nunca cumprem suas ameaças... A não ser comigo, talvez, porque eu forçasse até o último limite. José. Diogo. Raça de apaziguadores. Ainda não, não estamos prontos para o Após-calypse.
E os dias horríveis em que ele inventa de fumar maconha, o cheiro desagradável que de barriga vazia me faz querer vomitar, pôr os bofes pra fora... Sem defesa. Sempre lembro daqueles dias e de como minha janela está de súbito tão escancarada. E a porta não-trancada... Comendo bolacha recheada, acabando com o suprimento de carne... Uma sala de terapia é por demais opressiva para esse tipo de desaguamento paranormal... Se não nos engalfinharmos vamos parar no mal. Vai acabar mal. Correndo juntos ou um contra o outro. Nos esbarrando por aí. Na cozinha, no banheiro onde ele nunca se lembra da descarga, no corredor... Quem vai morrer primeiro?, a pergunta dos irmãos. O gênio e o burricão.
E quando a homofobia dos seus parentes só parece se dirigir ao canto (genital) errado... Algo monstruoso, já que pago pelo que nunca cometi: só o não ser um garanhão e não levar garotas pra casa. Deve ficar sempre aquela dúvida: será que ele é?!...
Me azucrinando nos estudos, e fazendo questão de nunca ter nenhum livro sob seu poder, a não ser um maldito catálogo, lista telefônica ou enciclopédia de decoração... Decorar um estilo de vida simples, e querer que se adaptem a ele, assim, bluff, sem mais nem menos...
Nada disso faz sentido... O mais incapacitado da família é quem mais quer o tênis da moda, o carro do ano, ter filhos... Usar caros e improdutivos narcóticos... Ser o comilão que deixa o registro aberto, a TV ligada, o ventilador girando, que coloca na chave “inverno” no calor mais escaldante... Se ao menos ele ajudasse com o aluguel do seu hegemônico colchão... Hegemônico desarrumado colchão... Bleargh..., como me repugna essa criatura vermiforme...