A Menina e o Vento
O cenário é árido e montanhoso, venta muito por aqui e as cores são sempre avermelhadas como um constante pôr-do-sol. Céu, areia, montanhas e cânions... todos em tons carmesim.
Não há vida aqui, além da dela. O vento é a sua única companhia. Ela mora à beira dos penhascos, onde o vento assobia mais alto. Ela se acostumou a senti-lo roçar sua pele, balançar seus cabelos e vestido, quase como num afago.
Os dias são quentes e o vento brinca com a areia, levantando-a e girando-a numa dança constante... a menina se diverte com o vento. Passa suas horas inventando imagens na areia, construindo histórias, sempre modificadas e varridas pelo vento. Às vezes o vento é irritante, mas a menina sempre o perdoa.
A noite é a preferida da menina... surgem as incontáveis estrelas no céu, milhões de pontinhos luminosos que tornam a areia branca, onde a menina se encolhe para dormir. O vento da noite é tranquilo e acaricia seus cabelos até fazer rolar lágrimas por seus olhos. As estrelas são como pontos de esperança, que fazem nascer a suavidade em seu coração.
A menina se acostumou com o seu pequeno planeta árido. Ela tem lembranças longínquas de uma casa e de uma mão sobre sua cabeça, sorrisos e palavras... mas há muito tempo isso deixou de existir, tempo suficiente para fazê-la questionar a sua verdade.
Sua pequena rotina, sua interminável solidão... nada disso a define. Ela tem uma existência única e preciosa. O vento se movimenta e ela se movimenta. É única, mas ao mesmo tempo só parte da paisagem. Apenas ela tem a consciência de sua existência e se não fosse pelo vento, que se corta à sua presença e faz voar seus cabelos, também a sua existência seria questionável. Por isso ela ama o vento. E mesmo que este varra todas as suas ilusões, ela sempre o acolhe.
A menina se senta à beira do penhasco, para ver sempre a mesma paisagem. Encolhe suas pernas sob o vestido branco tingido de areia, observando o horizonte, enquanto o vento lhe acaricia a face. Ela às vezes derrama lágrimas, mas o vento sempre as seca e faz girar a areia em sua dança diária, para fazer rir a menina única e solitária.