MI LUNA
Todos os dias, quero a esperança de uma criança
Que voa longe e ninguém alcança
Que não se pode segurar por não saber voar
Todos os dias, quero distância da solidão
Que aperta meu corpo e esmaga o coração...
Onde está a esperança nisso tudo?
Escuto tolices sem sentido
Ouço chorar um velho amigo
Quero tapar os ouvidos
Quero fugir sem deixar vestígios
Quero fugir e nunca mais voltar...
Vem salvar-me, ó Lua
Não quero estar sozinho
Quero o teu carinho ao despertar
Quero-te ao lado nos momentos de perigo
Quero o conforto de uma palavra amiga.
Leva embora o medo que apavora,
O medo da demora, o medo de esperar
Onde te encontrarei?
Fui te buscar tão longe, mas você não estava lá
Sou o eterno esquecido, que não cansa de lembrar
Um tesouro perdido, jogado ao mar
E esquecido, sofro, tentando esquecer quem um dia fui
São reminiscências de um lixo em plena decomposição
Nada me vem à mente, pois nada virá do nada que sou
Estiro-me ao léu, farto de não existir
Preciso que lembres de mim, ó Lua
Uma insuportável saudade me consome...
Preciso escapar e seguir um rumo
Resgata-me em tua memória colossal,
Resgata a nossa linda história, nossa glória banal
Resgata nós dois juntos entre risos soltos
Resgata o tempo que nunca passou
O tempo que estacou e esperou.
Não consigo mais ver teu brilho em luar nenhum
Busquei noutros rostos teu olhar profundo,
Mas não traguei outra vez teu suave frescor,
E nesta vida errante, percorre-me um desespero alucinante...
Clamo loucamente seu nome, ó Lua
Leva-me bem longe desta amargura
Peço-lhe o mais breve contato intenso
Prometo ser inesquecível neste instante raro
Quero ver teus raios ao atravessar meu corpo opaco
Quero abraçar teus braços quentes novamente
E me afogar em tua boca fria
E encontrar minha razão em tua ilusão
Ao ouvir a doce voz do teu belo riso,
Ao ver brilhar o céu no teu sorriso,
Eu gritarei em silêncio que em ti
Tenho tudo que preciso.