Intimidade XXIV(final)

Intimidade XXIV(final)

Não me deito ao leito d´ àgua para me lerem indo correnteza abaixo. Sou o rio, comunga comigo reluzes do esplendor do céu, do sol e das nuvens, que perambulam lá e cá.

Deixo-me-ir, sem direito a refazimento, entregue ao agora que urge, desmonta o criado e me entrega sempre pronta para ser este invólucro em atividade.

Sou lida, relida, entendida por mim como ovo, sem ponta nem pelo, uma semovente plasmada, impregnada de achismos, versos e multiversos, vieses que somente fazem criar a sanfona ilusionista que distrai, propondo confortar a mente que busca respiro, poros para a lógica que traz os números, evidencia os resultados da prática, do uso das faculdades e sentidos do homem interagindo com isto que diz ser realidade.

Andando sobre as águas, o que vejo de mim? Vergonha, excessos, abusos, desmandos, distrato com a ética e os bons costumes, prazeres somente meus, distúrbios emocionais, práticas que vai da boa samaritana, decadente, à fracassada de “ bon vivant”... uma bagunça!

Em meio a tanto, que modelo de mulher quero deixar ao mundo? Santa, ilibada na honra e reputação? Sofrida e heroína de si mesma? Se assim for, seja qual o ideal que o libertino e trapaceiro ego que porto pode estar intencionando me convencer, o trabalho está sendo desfeito na ida de forma regressiva, nunca saberei quem fui, o que fui no outro e nem para mim mesma em última instância.

Me importar, poderá significar a destruição de qualquer sentido, ser elixir ou veneno inadequado para o degustador, cutucar o que sou com vara comprida é a sugestão; não somente em relação à coisa pronta que sou, mas quanto a qualquer alma vivente. O maior mistério ainda é o próprio homem. Quem ele é?

Sob o véu das sábias palavras, teria a mente que me move intuito de ser artesã da obra, famosa auto estima? que de tanto sofrer da ameaça de auto flagelo, inocula-o em potencial com palavras, discutindo a realidade como querendo dominar o tema, sexo dos anjos ?

Desejo de sucesso, glória, definir um pingo na história como aquela que fez, refez a realidade, que apesar dos sofrimentos, perdas e insucessos, quer ser vista, respeitada, elogiada, destacada dos demais como contadora de prosa e versos? Seria este meu ideal como desejo primeiro? Pura patifaria!

O desejo é um atributo divino, sem dúvida, mas ao invés de conformar com a satisfação deles, o ser humano depara com a nóia antiga da busca de usufruí-lo, sempre, para mantê-lo ou ambicionar apropriar mais. Encontro o fracasso e o cerne de muitos estragos nesta cilada, cuja vítima e autora poderá ser esta que lhe apresento como sendo Eu, até mesmo você, caso se envolva demais com o que digo.

Experimente minhas palavras, mas o conceito sempre será seu, não apropriar nada sem antes compreender é a voz sábia que soa, conselheira antiga. A vida foi feita para ser vivida, experimentada.

Da necessidade de continuar sendo gente, substituindo os pés e pernas pela cabeça, estaria este cérebro que dita querendo suplantar a derrota do corpo físico? desejando ainda manter-se em cima da carne seca, atendendo às vaidades e orgulhos que o saber traz, tentando levar aos meus amigos irmãos o álibi do sentimento incondicional amoroso em um Deus, que não me é revelado quem é? Não passaria de uma pobre, desgraçada e nua.

Sobretudo, apesar do exposto...ainda sinto Deus...amo-o pelo ar que respiro, mesmo que dá danura na alma por ser, estar neste corpo, viver este corpo na forma como está...que seja eterno enquanto dure.

Vivo o agora. Aguardo o despertar.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 05/10/2017
Código do texto: T6134022
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