Sentei à mesa pela primeira vez como quem sabe escrever poesia com desenvoltura. Qual a razão da decisão de pretender escrever poesia sem uma bagagem consistente? Não existia n’alma nem no coração naquele momento, um pensamento poético brincando de passear em meu cérebro.
Olhando para folha branca, a mão inapta não esboçava nenhum traço que pudesse povoar o deserto poético, a pena rodopiava entre os dedos, as palavras voaram pela janela, foram ter com o infinito e minha pretensão emudeceu...
Levantei-me, fui até a varanda, desolada, decepcionada por uma tentativa vã, restou-me contemplar o jardim, era uma tarde outonal, as folhas caiam e a nudez das árvores entristecia a passarada procurando abrigo no fim de tarde para seu pouso noturno.
Eu me preparava para uma leitura inspiradora, não foi preciso, as folhas mortas das árvores, porém vivas para meus olhos bailavam ao sabor do vento, desenhavam poemas pelo chão, foi aí que me desnudei tal qual ás árvores, expulsei a insegurança e a inspiração surgiu vestida de coragem outonal dando forma e vida aos meus primeiros versos.
Poeta eu não sou
De crueza, vestida estava
Temia escrever um verso torto
E compor poema nati-morto
Foi assim, numa tarde outonal
que escrevi meu primeiro texto.
A transpiração parecia visceral,
Quando vislumbrei novo contexto
A pena tomou impulso.
Espero lá na frente
Poder avançar na retórica
Tornar-me gongórica
Ser poetisa de verdade
Ao autor iniciante
Deixo aqui meu recado
Não desista, siga adiante
Insista no seu futuro legado.