Não temos tempo para a vida
Não temos tempo para a vida
Porque vivemos a vida que não nos permite viver.
Não temos tempo para celebrar nossa própria existência.
Porque é justamente o vigor que nos instiga a acolher a rotina.
Não temos tempo para o amor
Porque o sentido do amor se perde no tempo.
Não temos tempo para acariciar, sentir ou abraçar
Porque a sensibilidade é uma banalidade para o tempo presente.
Só temos tempo para a dor
Porque a dor nos obriga a parar no tempo.
Diante da doença, do sofrimento
Ou da perda de um ente querido ou amigo
As obrigações corriqueiras se tornam, de fato, trivial, habitual, vulgar.
Haverá tempo para o choro.
As carícias e abraços parecem ter cada um o seu lugar.
Os velórios vão se tornando reencontros de família,
Cheios de netos, tios e sobrinhos,
Até mesmo pais e filhos que, por certo, não se encontrariam em outra sorte.
Pois, somente assim, cancela-se sem muito remorso a agenda
Para solenizar a morte.