Eterna primavera
Hoje é primavera, mas para mim sempre foi – floresço todos os dias, desconheço equinócios.
No inverno... apesar do frio que insiste em queimar minhas pétalas;
No outono... apesar do vento insistindo em despetalar-me;
No inverno... apesar do frio que insiste em queimar minhas pétalas;
No outono... apesar do vento insistindo em despetalar-me;
No verão... apesar do sol forte e dos temporais castigarem minha frágil existência.
Sou eterna primavera, mas passo quase despercebida, muitos olham, poucos conseguem ver. Vivo longe dos jardins, frequento o território das belezas raras, aquelas que insistem em andar sem ornamentos desnecessários.
Minha simplicidade, às vezes, irrita quem espera a primavera suntuosa – caibo na singeleza de um breve instante - disponha de alguns minutos, observe-me, e se encantará irremediavelmente.
Teimo em florir na inospitalidade - não careço de maiores cuidados, fui gerada para transgredir limitações - "Uma flor nasceu na rua! Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio". Tirem suas redomas, cresço melhor quando a liberdade é meu manto - minguo minha beleza quando limitam meus domínios; nasci sem muros, nada cerceia a doce rebeldia que trago em mim.
Cresci no concreto quebrado da calçada, na fresta da desesperança, onde tu julgas não caber a beleza, por isso desdenhas meu encanto, mas ainda faço festa quando te vejo passar - floresço e enfeito teu caminho, todos os dias, numa eterna primavera.