ARAPONGA
Lembro-me com nostalgia de minha infância, quando ouvia, com relutância, quase todo dia, o contundente e estridente ruído de um martelo que se chocava contra uma imaginária bigorna. Vinham a minha mente pueril a imagem de um vigoroso ferreiro que, de modo estrondoso e febril, malhava uma peça de aço, dando-lhe inusitados contornos, forjando-a de acordo com indigitados modelos, sepultados nos recônditos meandros de minha imaginação.
Somente alguns anos mais tarde, sem nenhum alarde, fiquei sabendo que se tratava do canto de uma ave de nossa copiosa e maravilhosa fauna: a Araponga, e não das reiteradas percussões do martelo de um abnegado ferreiro sobre uma simples bigorna. Fiquei, a princípio, um pouco desapontado pela minha ingenuidade, contudo, após refletir com serenidade, constatei que meu equívoco era compreensível e perfeitamente admissível, ante o realismo do aprazível canto dessa exótica ave!