A inércia da vida
Sempre que fecho os olhos percebo que tudo é efêmero. Dormir sempre foi uma espécie de refúgio, assim como escrever. Quando durmo sonho, amenizo, esqueço, pauso... Mas ultimamente, tem sido torturante. Pensar na minha fragilidade; pensar que o que me mantém viva é um fôlego, que pode esvair a qualquer momento... Perceber o quanto somos nada; que todo o construído agora, um dia irá desabar e o todo restante continuará sem mim. Pensar que não verei parte da minha geração, e tentar imaginar o que irão falar sobre o que fui, e o que sentiam... pensar no que realmente eu vou deixar. Fazer valer a pena, talvez seja esse o objetivo. Mas sabe, pensar que acaba, tira a vontade de começar... por isso o desânimo matinal. Levo todo um dia, para perceber que vale a pena fazer, sorrir, chorar, existir; e quando estou convencida disso, chega a hora de dormir. Então fecho os olhos e toda a efemeridade vem à tona. A preguiça de começar e saber que vai acabar, ou melhor, que vou acabar, definhar, deixar... Começo, muitas coisas, e paro pelo metade. Certamente deveria terminá-las, mas talvez seja isso: o efeito do fim, ou do não fim. Algo que me cerca, e deixa-me sempre nessa inércia, esse "ser/ não ser" que sempre cito. Agora, é só mais uma manhã, cinza e chuvosa de inverno, e talvez metade do que disse não tenha sentido.