Prosa Poética Relato dum caipira

Relato dum Caipira

(Jari Zamar) Seu moço... Vivo num tremendo desgosto, deixei minha choça, abandonei a lida da roça, e na cidade, atrevi vim mora. Seu moço... Se arrependimento matasse eu já taria morto no dia que travessei a véia porteira em direção du progresso. Há seu moço...! Como sofro como sofro... Choro calado, cumu um espim fincado narma, mode que bandonei ité a cabrocha Valéria Reani, mulata jeitosa, cheia di dengo e di prosa qui se encatava cum eu. Sabe seu moço a sardade dói dimais, dimais da conta, qui chego inté, perde u forgo, i a conta di quando aqui, na cidade cheguei... Vo ti fala uma coisa seu moço, a sardade dói tanto, mais tanto, qui cada quarto di minhas carne estremesse só di pensar a bestera qui fiz, im deixá meu arráia... Tá certo seu moço, a cidade é bunita, cheia di loja e di luz, mais num custumo cá não, é carro pra lá, carro pra cá, busina e a tar poluição. Lá nu meu sertão, tem isso não, seu moço, lá tem o canto do sabiá, dus canarim marelim, até du jão di barro qui faz seu nim qui nem uma muringa di barro. Ai seu moço como dói, como dói... Eu quero vorta, mais num tenho dinheiro e nem capitá. Gorinha mesmo fui sartado pru marginá, um menino ligeiro, pegou minha goiaca e travessou qui nem vento nu meio dus carro, a hora qui eu dei o primeiro passo, um carro quase me trupelou e o motrista mar ducado ainda chigou eu, dum palavrão muito fei... Ainda disse qui eu era du mato, um gonorante. Sabe seu moço fiquei muito triste, fui sartado, quase trupelado e um homi mi chamo dí gonorante. O sinhô acha que eu so gorante...? Há seu moço! Eu queru vortar, eu quero vortar, eu quero vortar... O sinhô mi ajuda...? Oia seu moço, minha mãe (Maria Tereza Marins Freire) escreveu preu vorta, vou le um trechinho pru sinhô. Fii (Vilmar da Veiga) aqui é seu lugar, vem cuidar du seu cavalo lazão, du cachorro maiado e do seu boi marruco, vorta fii, vorta. Seu pai (Yangle Sousa Tavares) num guenta mais a lida da roça, adoentou semana passada ficou di cama, i oia fii, pru seu pai encostar é pique a coisa ta braba, sua irmã (Perola) se engraçou pelo (Júlio) fii du japoneis (Renato Freire Takarracha) du sitio vizinho ce sabe qual é? È moço bão, moço pra casá. Fii vorta logo pru seio da famia, vorta, to cum sardade du ce tumbém. Oia fii, aqui a lavoura, da o que come u ano terim, tem água da bica, banho nu rio, prefume das fror, tem leite da mimosa, queijo, geleia de amora qui se gosta tanto, vorta fii, vorta! Seu moço... Quando li essa carta di mamãe meu coração sangrou comu diz aqui na cidade, numa palavra bunita, dilacerou... Sabe seu moço, mi discupi por eu ta chorando agora... Ti contando minha história, a cidade cortou cada pedacim di mim, di minha carne i pago meus sonho. Eu quero vorta, vorta pru meu sertão... Sabe seu moço, eu mi envermeio tudim tudim di vergonha, mais mi ajuda vortar pru sertão... Mi ajuda seu moço, pru favor...

AdilsonTinoco
Enviado por AdilsonTinoco em 12/09/2017
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