Corações
Coração, esse ilustre desconhecido de toda gente
Ora faz brotar sementes, ora corta caules bem rente
Independente, terreno em que não se entra sem licença
Não compensa, já que ele se defende com a indiferença
Nem mesmo o seu portador poderá suportar a dor
Ao ver o objeto do seu amor diluir-se na bruma, vapor
Já que as razões do coração são tão imponderáveis
Seria bom e útil se os ferimentos fossem regeneráveis
Mas não o são, o coração tem liberdade até entre grades
Ele dança e canta na rua fazendo alarido até tarde
Simplesmente porque quer, impulsivo como só ele é
Os corações mais estáveis, sofridos, têm um certo juízo
Sabem renunciar ao que os faz deliciar se for preciso
Mas se tentam fingir, de nada adianta fazer tanta força
Acabam subindo à garganta e saindo... pela boca...