Na curva da estrada um tombo. Todo o carregamento espalhado pelo caminho. Eram só poesias. Apenas poesias. Certo, estava lotado, abarrotado de sentimentos, deve ter sido o peso, o peso dos versos entonelados. Estavam agora largadas no asfalto. Algumas voaram morro abaixo, outras subiram aos céus. Foram tantos grudados na pista molhada!
Um acidente apenas, um trágico acidente numa BR. Mas o pombo ciscou e sapateou em cima de um deles, achando pouco deixou marcado seu excremento esverdeado. Nossa, isso é que é zombrar de sentimentos. Uma delas, talvez a mais leve e romântica estava presa a um galho. Lembro bem dela porque havia um coração mal desenhado à mão.
As demais seguiram caminhos diversos pelo céu aberto. A menina que no parque chorava sentiu algo cair em suas mãos, seriam palavras vindas do infinito? Mas enfim as palavras tornaram seus sonhos mais bonitos. Ao mesmo tempo um casal sentado num banco, que brigavam sem nem mesmo saber o porquê acabou lendo juntos a mensagem do além e sem demora eram um só bem.
Tantas foram as mensagens que agora de nada me serviam. Eram mesmo destinadas ao vendo, ao acaso, ao relento…
Agora me despeço dos versos, esses bipolares amigos das horas. Nem sequer mais um deixarei escrito em vagas memórias.
(Taciana Valença)