Rasgo

Sim, amor. É um rasgo. Como o tempo. Infinitivamente, um rasgo na eternidade. Tudo resseca. A terra. A pele. A mente. O tecido. E o movimento é sempre esse dedilhar nas cordas da guitarra. Sem consistência. Apenas o som vandalizando o silêncio. O abandono das palavras aos impossíveis. Sim, amor. Nunca será inteireza. O tom seguinte é por vir. E não é futuro. É esse rasgo. Essa fenda sem passagem. O travessão seguinte. A margem inventada. O infinito cheio de rastros. O vagar. A extra-vagância. O poema. Sim, amor. Não se traduz essa palavra. A placa. A nota. Precisa-se de inventores.