Órbito

Girou um dia e me vi na mesma hora que no dia anterior, repetindo rotinas semanais que se emendam e não mudam e atravessam os anos que parecem reprises de anos anteriores. Um fato aqui, outro ali mudou. Pessoas ficam pelo caminho, mas a essência desta rotina orbita este astro de quinta pequeneza, senhor do meu tempo que entre seus codinomes, atende também por Mesmice.

Será que estou aumentando a velocidade ou os dias amontoados que me passam esta sensação? Conseguirei fugir desta gravidade? Ou este é o meu mundo e esta é uma lei universal que nem a viagem mais louca me fará esquecer que minha liberdade é ilusão? Motivos de sorrisos abertos me darão garantia da Paz? Seria este corpo apenas uma fronteira? E se depois dele eu perceber que o astro rei é mais forte e que continua lá me girando como quem pega uma criança pelos braços me sorrindo, esperando pela alegria do meu frio na barriga? Como se o girar fosse o máximo. Acho que estou ficando enjoado. A Droga da vida estaria fraca? Estaria precisando de outras mais fortes para ter a sensação cada mais efêmera da excitação? E se a próxima droga não saciar esta falta? E se eu descobrir que não tem o depois dela? Melhor ficar com esta droga. Pelo menos ainda sobrevive uma luz no depois, que nesses dias tem sido a minha esperança. Quem sabe uma doença de memória me proporcione novamente alegria do ineditismo mesmo num caminho pisado ou seja solto por esse Astro Rei e me veja voando desorbitado. Enquanto não acontece, vôo à órbito.