diálogos que jamais irão acontecer, parte 2
"Uma das coisas que eu sempre quis fazer é um diário."
"É, é?"
"Sim."
"E por que não faz?"
"Não sei."
"Ué?"
"É. . ."
"Como assim não sabe?"
"Não sei o que escreveria nele."
Ele se inclinou para trás. "O que aconteceu no seu dia a dia? Seus pensamentos?"
"Mas nada acontece comigo, e meus pensamentos eu tendo a guardar para poema ou conto."
"Ah. . . Então. . . Num sei. . ."
"Pois é. Nem eu," eu baixei minha cabeça. Sentava recostado, observando os rostos atrás de meu amigo. Era só mais uma sexta à noite em que a gente espera algo a mais.
"Você pode escrever nele livremente. Sem pretensão."
"Mas eu já faço isso."
"Aí fica foda, cara."
"É que tipo, eu não o faço cem por cento despretensiosamente, sabe? Mas separar o que é pra ser escrito a sério do que não é, às vezes se torna bem difícil."
"Por que você não escreve então o que você considera que ninguém pode ler?"
Peguei o isqueiro da mesa e o acendi. Encarava o fogo enquanto pensava na resposta.
"Hein?"
"Pode ser," tinha me esquecido o porquê de ter iniciado essa conversa, mas perdi a vontade em continuá-la. Não soava algo importante a ser discutido, tampouco interessante. Sentado em uma mesa distante eu tentava me enxergar, como algum outro que passeava os olhos pela noite, pelas cadeiras, mesas ou calçadas, analisando as caricaturas presentes. Com gestos que quebravam o vento, vozes que temperavam os espaços de uma mesa para outra. Em mim eu não conseguia enxergar tais coisas. Ficava parado, olhando para meus lados apenas para mexer o pescoço. Meu amigo jogava a fumaça de seu cigarro a mim. Algumas luzes traziam um misticismo ao ambiente, e a música se tornava um sussurro quando eu me concentrava em não ouvi-la. Tudo parecia estar longe. A importância e até mesmo o seu desejo, o interesse em continuar dando murros em sua ponta. Levantei-me.
"Vai no banheiro?"
"Não, vou embora mesmo."
"Mas já?"
"Sim. Tô meio cansado, com sono."
"Ah, valeu então."
"Boa noite."
"Pra você também."
Resolvi encerrar minha noite.
"Uma das coisas que eu sempre quis fazer é um diário."
"É, é?"
"Sim."
"E por que não faz?"
"Não sei."
"Ué?"
"É. . ."
"Como assim não sabe?"
"Não sei o que escreveria nele."
Ele se inclinou para trás. "O que aconteceu no seu dia a dia? Seus pensamentos?"
"Mas nada acontece comigo, e meus pensamentos eu tendo a guardar para poema ou conto."
"Ah. . . Então. . . Num sei. . ."
"Pois é. Nem eu," eu baixei minha cabeça. Sentava recostado, observando os rostos atrás de meu amigo. Era só mais uma sexta à noite em que a gente espera algo a mais.
"Você pode escrever nele livremente. Sem pretensão."
"Mas eu já faço isso."
"Aí fica foda, cara."
"É que tipo, eu não o faço cem por cento despretensiosamente, sabe? Mas separar o que é pra ser escrito a sério do que não é, às vezes se torna bem difícil."
"Por que você não escreve então o que você considera que ninguém pode ler?"
Peguei o isqueiro da mesa e o acendi. Encarava o fogo enquanto pensava na resposta.
"Hein?"
"Pode ser," tinha me esquecido o porquê de ter iniciado essa conversa, mas perdi a vontade em continuá-la. Não soava algo importante a ser discutido, tampouco interessante. Sentado em uma mesa distante eu tentava me enxergar, como algum outro que passeava os olhos pela noite, pelas cadeiras, mesas ou calçadas, analisando as caricaturas presentes. Com gestos que quebravam o vento, vozes que temperavam os espaços de uma mesa para outra. Em mim eu não conseguia enxergar tais coisas. Ficava parado, olhando para meus lados apenas para mexer o pescoço. Meu amigo jogava a fumaça de seu cigarro a mim. Algumas luzes traziam um misticismo ao ambiente, e a música se tornava um sussurro quando eu me concentrava em não ouvi-la. Tudo parecia estar longe. A importância e até mesmo o seu desejo, o interesse em continuar dando murros em sua ponta. Levantei-me.
"Vai no banheiro?"
"Não, vou embora mesmo."
"Mas já?"
"Sim. Tô meio cansado, com sono."
"Ah, valeu então."
"Boa noite."
"Pra você também."
Resolvi encerrar minha noite.