De bruços
Era madrugada. O sono perambulava. O corpo se repetia estendido sobre o colchão. De repente, um movimento inabitual. Virou de bruços. De bruços, pensou, de onde vem essa palavra? Que coisa mais estrangeira é a palavra. Imaginou qualquer coisa de bruxa nesse encontrar da barriga com o colchão. O lugar de gestar. O chão da vida. O caldeirão das energias cósmicas com as especiarias de suas linguagens. O universo fala através da cor. E os olhos que (se) tocam mirando têm seu próprio dialeto. Debruçam-se. Como debruçada estava. E estar assim dispensava o travesseiro, que caía sobre a cabeça, travesso como um capuz. O segredo escondido na face. A noite estava de bruços. Como nada o corpo sobre as águas. Tudo o que movimenta importa. Aqui ou do outro lado da lua. Precisava dormir. Debruçou sobre as palavras. Mergulhou. Talvez sonhasse….