Museu de Sentimentos
Sonhei um museu sentimental, um lugar para proteger lembranças queridas. Nele a luz das memórias projetariam sombras afetivas, ampliando a pequenez de toda saudade. Um objeto teria mais que sua forma e matéria , uma receita não traria apenas uma sequência de passos a ser seguida, um retrato seria mais do que uma gravação impressa em papel.
A tudo seria dada, não a dimensão da realidade crua, mas a das cores que nós forjamos no espírito. O pão de queijo teria o gosto dos dedos da minha avó. Ambos há muito se perderam nos desvãos do tempo. Não sei o gosto que tinham os dedos dela, mas adorava a massa crua, talvez porque guardasse deles algum sabor.
Procurei a receita com minha mãe. Depois apelei para as tias. Queria recriá-la. Ninguém soube me falar. Não existe mais o registro da técnica, partiu com ela para um paraíso que não sei onde fica. Chorei desse fracasso.
Fico pensando se a tivesse encontrado e recriado. Não teria gosto teria o mesmo gosto, amassado por outras mãos.