Das coisas que eu sei e de outras que sabia

Sei de cor o nome da minha mãe

Tatuado pelo avesso em meu peito.

Sabia o nome da rua de minha infância

Hoje, perdida no breve percurso.

Sei das paredes da velha casa

As conversas entremeadas, o riso e o choro.

Sabia da gramática: acentuação, concordância e regência verbal.

Inúteis apologias – arre!

Sei da música cantarolada na calçada

Das promessas juvenis, derrocadas.

Sabia das 4 operações matemáticas

Desprovidas de serventia, confusão nostálgica.

Sei do beijo tácito

Da breve despedida no portão – tchau, filho; adeusinho, filha.

Sabia das guerras, dos mortos e dos sobrevivos

Do espetáculo findo.

Sei do som do coração

Aflito, pesaroso, medroso.

Sabia da criação da vida, da história inventada

Da primeira condenação – paraíso maculado.

Sei o trecho do poema

“Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Quem me dera ouvir de alguém a voz humana”.

(...)

Do que sei

Sei tão pouco

Busca infinita

Do ser que em mim habita!